PT: COVID-19: Dados de confiança & informação duvidosa
No último mês, a pandemia de COVID-19 tem sido o principal assunto de debate no nosso dia-a-dia em Portugal. Este assunto tem aparecido nos nossos feeds de notícias, conversas do WhatsApp, telejornais e metade das conversas que temos em pessoa.
Nas últimas 72 horas, recebi pessoalmente, vinda de várias pessoas diferentes, informação sobre mortes devidas ao COVID-19 que não foram reportadas nas notícias, e indicações para evitar tomar ibuprofeno (vendido mais commumente sob a marca “Brufen”) porque podia aumentar a probabilidade de contágio do vírus.
Conteúdo assim interessa-nos: esta nova informação apela às nossas emoções (nomeadamente o medo) e contorna o nosso raciocínio. Mesmo que os dados não sejam totalmente lógicos, parece que vêm confirmar teorias que já tínhamos, e o ser humano tende a acreditar mais em informação que esteja alinhada com as suas crenças. Mas nunca podemos comprovar nada: estas afirmações nunca são desmentidas, porque nunca são oficiais, e conseguem viver na nossa paranóia sem serem confrontadas com a realidade.
Algumas destas crenças podem levar a reações de pânico como estamos a ver no estrangeiro, onde todo o papel higiénico é comprado (e ninguém sabe bem porquê, mas não querem ficar sem ele), e as máscaras esgotam ao ponto de os profissionais de saúde não terem máscaras para usar em cirurgias.
Para combater a desinformação, podemos:
Ver dados em tempo real para nos mantermos informados
Usar fontes fidedignas
Ter boas práticas com conteúdo duvidoso
Dados fáceis de entender (e ao vivo)
Tal como referido acima, a Direcção Geral de Saúde apresenta informação actualizada diariamente sobre a pandemia num dashboard fácil de entender e navegar:
(versão para smartphone aqui: as setas no fundo do ecrã permitem navegar entre ecrãs)
Há também um outro dashboard que cobre todo o mundo, construído por um utilizador do Reddit, e que obtém informação da Organização Mundial de Saúde:
Usar fontes fidedignas
Muita informação útil pode ser encontrada no site oficial do Ministério da Saúde incluindo o excelente dashboard com informação actualizada todos os dias (referido na secção acima.
Twitter:
Direcção Geral de Saúde (@DGSaude)
Dá informação actualizada sobre a pandemia em Portugal
Publica detalhes sobre encerramento de escolas
Informa sobre como pedir a declaração para pais e avós
Dá detalhes sobre a legislação que cobre trabalhadores por conta de outrem e trabalhadores independentes
Faz retweet de outras contas oficiais do Governo Português, como o Serviço Nacional de Saúde (@SNS_Portugal),
A Organização Mundial de Saúde (@WHO)
Publica boas práticas não só de saúde como também de epidemiologia
Dá informação internacional actualizada e fidedigna sobre a pandemia
O Dr. Ricardo Mexia (@RicMexia)
Dá conselhos práticos sobre esta doença de forma muito acessível
Partilha conteúdo relevante sobre o COVID-19 encontrado noutras contas
Práticas a ter com conteúdo duvidoso
Quando nos cruzamos com informação de origem incerta, que parece contradizer fontes oficiais, e que nos deixa com perguntas, podemos seguir algumas dicas:
1. REMETENTE
1.1. Se for num chat do WhatsApp, é conhecido nosso? É especialista no assunto?
Se não, poderá estar de forma bem intencionada a comunicar informação que tenha alguma motivação escondida.
Acção: ver Ponto 2.
1.2. Se for um email, o domínio do endereço (depois do @) é oficial? Ex.: um email assinado pelo Ministério da Saúde vem de um remetente min-saude.pt?
Pode ser conteúdo que se faz passar por informação oficial, para obter dados pessoais ou levar-nos a ser vítimas de fraude.
Acção: Não abrir/partilhar/prosseguir.
1.3. Se for um ficheiro ou documento, o conteúdo está assinado?
A ausência de assinatura não nos permite avaliar se podemos confiar na qualidade da fonte.
Acção: ver Ponto 2.
1.4. Se for um link nas redes sociais: o domínio (xxxxx.com) parece conhecido? Ex.: é um canal de notícias como a RTP ou SIC, ou é um site governamental?
Muitas vezes, os links partilhados são de domínios que parecem ser confiáveis ao incluir palavras como “health / saúde”, “news / notícias” e outros semelhantes, especificamente para levar as pessoas a confiarem neles à primeira vista.
Acção: Não abrir/partilhar/prosseguir.
2. MOTIVAÇÃO
2.1. Alguém beneficia em transmitir esta informação? Mesmo que o remetente directo desta mensagem não vá ganhar nada com isto, outras pessoas ou entidades podem ficar a ganhar com a reacção das pessoas (que vão evitar fazer algo, ou vão a correr comprar algo).
Um exemplo prático são as máscaras faciais, que só são aconselhadas para profissionais de saúde e pessoas com sintomas, e que tiveram um disparo exponencial no preço.
Acção: ver ponto 3.
2.2. O conteúdo pede para fazermos alguma coisa? Recebemos instruções para ligar para algum número, darmos os nossos dados em algum site, passarmos mensagens para alguém (ver ponto 2.1)?
Tanto pode ser um pedido bem intencionado de um conhecido/amigo/familiar, como pode fazer parte da mensagem original, e transmitir dados erróneos.
Acção: ver ponto 3.
3. TESTAR
3.1. Em caso de dúvida, consigo encontrar a mesma informação em fontes que confio? Ex.: bons sites de notícias, outros sites internacionais, sites do governo?
Se sim: este conteúdo é confiável.
Se não: pelo menos para já, não devo considerá-lo suficientemente fidedigno para agir com base nele.
Nos dias que correm, paira no ar um vírus contagioso, mas também muitas teorias e ideias paranóicas.
Que o nosso espírito crítico seja um filtro respiratório para os nossos medos.
Fiquem por casa,
Lavem as mãos enquanto cantam a Toxic da Britney Spears,
Aproveitem o tempo para fazerem o que não faziam (exercício físico, hobbies, noites de cinema em família, ler aquele livro estacionado na mesinha de cabeceira),
E façam muitas videochamadas para matar saudades.