PT: O meu telefone está a ouvir tudo quanto digo?
Já te apanhaste a pensar:
Como é que pode ser?
“Só falei disto com os meus amigos”, pensas. “Mas procurei no Google? Sou capaz de jurar que não”.
E mesmo assim, estás a ver o anúncio no Instagram: a camisola.
Como é que eles sabem que tu querias aquela camisola? Eles têm de estar a ouvir.
Para começar, acertaste em metade: eles sabem mesmo. Já lhes deste várias pistas que querias a camisola. Falamos disso mais abaixo.
Em segundo lugar, a parte em que te enganaste: eles não estão à escuta, mas estão a prestar atenção. E estamos a facilitar-lhes a vida.
Em terceiro lugar: quem são eles e porque é que isto lhes interessa?
Começamos pelo fim: “eles” são empresas de publicidade: a Google (incluindo o YouTube e Gmail), Facebook (incluindo o Instagram e o Messenger) e outras parecidas, mas muito mais pequenas. Estas empresas ganham dinheiro ao mostrar-te anúncios.
Mas aqui está o truque: os anúncios precisam de ser bons o suficiente para clicares neles. E qual é a melhor maneira de fazer as pessoas clicar em anúncios? Só lhes mostrar anúncios de que gostem 😏
Portanto: acertaste nos tópicos #1 (eles sabem?) e #3 (quem e porquê).
Mas, se eles sabem, como é que sabem?
Eles não estão a ouvir.
1. Com o software certo, podemos ver o que está a entrar e sair dos nossos telefones, e o Instagram (ou o Facebook, ou Messenger, ou Chrome, ou…) simplesmente não está a enviar áudio à socapa.
2. Todos odiamos uma coisa nos nossos telefones: a bateria. Tiras meia dúzia de selfies, perdes 5%. Vês um vídeo de gatos e lá vai ela. Imagina se diferentes apps no teu telefone enviassem continuamente ficheiros super pesados de áudio ininterruptamente, um para cada destino. A bateria não te durava duas horas.
3. Se o telefone estivesse mesmo sempre à escuta, o que ia ouvir? Mais de 90% do tempo, estás em silêncio. Nos outros 10%, junto de gente a falar, o telefone não tem garantia que és tu. E se és tu, provavelmente não estás a falar do que queres comprar.
4. Eles não precisam de te ouvir; eles estão a ler-te.
Eles são os proprietários do teu motor de pesquisa, da tua conta de email, o teu perfil de rede social, a tua plataforma de vídeo, o teu armazenamento online, o teu álbum de fotos… e é muito mais fácil descobrir os teus interesses através do que escreves voluntariamente todo o dia, todos os dias, nestas ferramentas.
Mesmo fora das propriedades do Facebook ou Google, imensos sites têm forma de perceber se tens sessão iniciada nestas plataformas. Incluindo a loja onde encontraste a camisola. E mesmo que não uses o Facebook, podes usar o Instagram (propriedade do Facebook), que partilha o teu ID único. O Facebook e o Google desenvolvem as suas ferramentas de análise comportamental — instaladas em 25% e 75% do milhão (!) de sites mais populares do planeta respectivamente — que ajudam os negócios a entender como potenciais clientes interagem com as suas lojas on-line. Em troca, ambas as empresas podem registar o nosso comportamento nestes sites (por exemplo, se adicionaste a camisola ao carrinho mas não chegaste a comprar).
Nós esquecemo-nos disto: o Google e o Facebook não nos mostram só anúncios nas suas plataformas. O gigante de pesquisas mostra anúncios em mais de 2 milhões de sites, e a rede social noutros tantos. Foi muito provavelmente aí que viste o anúncio da camisola e pensaste “mas como!? 😬”.
É engraçado como as pessoa se sentem incomodadas pela ideia de alguém a ouvir tudo quanto dizemos, mas estão tranquilos com a realidade de alguém ler tudo quanto escrevemos.
As nossas vidas — desde o que compramos até onde vamos, com quem falamos e em quem votamos — são informação mais valiosa do que pensamos.
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