PT: Adoramos preencher este questionário de marketing todos os dias
Já todos preenchemos este questionário, e gostámos tanto que continuamos a voltar lá para o preencher.
Existe um questionário sobre as coisas de que gostamos. Tem dúzias de imagens: da praia, de discotecas, dos nossos hobbies e dos desportos que praticamos, de famosos que admiramos. Cantores, atletas, políticos e activistas.
Quando encontramos algo de que gostamos, marcamos “eu gosto disto”.
Respondemos a este questionário todos os dias, e sabe-nos tão bem fazê-lo. Não ficamos entusiasmados nem nada disso, mas dá-nos gozo. É um sentimento bom o suficiente, para voltarmos ao questionário voluntariamente, especialmente quando estamos aborrecidos.
A parte interessante é: são os nossos amigos que escrevem as questões. Quando são eles os autores das questões, nós queremos marcar “eu gosto disto” ainda mais.
Isso faz-nos querer escrever as nossas próprias questões: gostas desta canção? E deste festival de música? E da minha cara?
E quando muita gente nos diz “sim, eu adoro isto!”, mesmo quando são completos estranhos, é aí que ficamos entusiasmados. (Particularmente se for uma fotografia da nossa cara).
Nunca chegamos ao fim do questionário. Ele foi desenhado para não ter fim. De qualquer forma, nós gostamos e é de graça, portanto continuamos a fazê-lo.
Mas para que serve este questionário?
Saber do que gostamos é uma forma muito boa de saber em que gastaríamos dinheiro. Mas nunca ninguém se sentaria voluntariamente para responder a um questionário destes. Portanto os autores juntaram dois pormenores super cativantes: fotografias bonitas e a promessa de recebermos elogios quando as publicamos.
E mil milhões de nós têm o questionário instalado no telefone: um quadrado cor-de-rosa no ecrã principal, com a palavra “Instagram” por debaixo.
Abrimos e começamos:
Adoro estas sapatilhas: *tap tap* ❤️
Adoro esta cidade *tap tap* ❤️
Adoro este artista *tap tap* ❤️
E temos uma descarga pequenina de neuroquímicos no nosso cérebro, em troca da nossa informação: sapatilhas que queremos comprar, cidades que queremos visitar, artistas que adoraríamos ver em concerto.
E a informação que demos ajuda a escolher os anúncios que vemos entre as fotografias deste questionário.
Acho um bocado sinistro.
E não há nada que possamos fazer: é assim que o Instagram funciona. E o Facebook. E o Google.
(Não é assim que a Apple funciona no entanto; eles fazem dinheiro com hardware e serviços como o iCloud e a Apple Music, mas têm um foco específico na privacidade).
Enquanto usamos estes serviços, damos-lhes os nossos dados.
No entanto, podemos procurar alternativas que não lucrem com as nossas informações pessoais, tal como substituir o Google pelo DuckDuckGo, o Gmail pelo e-mail do iCloud, entre outros.