PT: Lições aprendidas em isolamento social
Eu nem gostava de trabalhar em casa. Mas agora… até gosto?
Flashback: Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2020 — mas podia ser outro dia de trabalho qualquer.
Acordo às 7h45, como qualquer dia útil. Tomo o pequeno-almoço: uma chávena de café, uma tosta seca e uma banana. Arranjo-me e saio porta fora às 8h50 — tenho sete minutos para chegar às estação de metro quando o metro passar às 8h57. Já lá dentro, tenho 26 minutos até chegar, para limpar a minha caixa de entrada enquanto ouço música. Subo a rua, cinco andares pelas escadas, e com o coração acelerado sento-me em frente do computador, que está configurado para se ligar sozinho às 9h20. Costumo ganhar-lhe por uns segundos.
Flash forward: hoje.
Mal saio de casa.
Não há metro para apanhar.
Não há escadas para subir enquanto compito em contra-relógio imaginário com o computador que eu configurei.
O que é que aconteceu à minha rotina?
Eu entendo que este meu plano não é muito comum. Nem acho que devesse ser! Eu sou o metrónomo da minha vida e adoro manter o ritmo, mas a maioria das pessoas improvisa a música, desde que as coisas se mantenham mais ou menos previsíveis. Sabem o que não encaixa com previsibilidade? Uma pandemia.
Agora estamos confinados maioritariamente às nossas casas, e quem pode trabalhar remotamente está a fazer amigos via videochamada de Zoom.
A minha empresa mandou-nos para casa — e eu devia acrescentar, esta medida preventiva foi tomada uma semana antes de quaisquer directrizes oficiai, para nossa protecção — e a minha preocupação era:
Estou a planear passar 23h45 por dia dentro deste T1 com kitchenette, e enquanto gestor de produto, tanto do meu trabalho é feito em contacto directo com a minha equipa, em momentos individuais.
Como é que eu posso manter a minha rotina e produtividade sem enlouquecer?
O que funcionou para mim?
Manter a minha rotina diária
Saído da cama às 7h45, completamente vestido e pronto às 8h50. Vestir-me da forma como me vestia para sair (camisa, pullover, calças e sapatos/sapatilhas) faz-me sentir mais bonito (não vou mentir) e sobe a minha auto-estima no quotidiano. Porquê deitar isso fora? Passo metade do meu dia em videochamadas de qualquer forma, portanto mais vale sentir-me bem-parecido.
Desço as escadas de emergência do prédio, dou uma volta ao quarteirão (levo o lixo quando é preciso), e estou de volta em 10 minutos. Já consegui enfiar uns minutos de cárdio na minha manhã (para aplacar o pequenino deus que vive no meu Apple Watch e me massacra para fechar os anéis de actividade).
Faço chá (trago o bule para a secretária e tenho alguma coisa para beber durante o dia em vez de comer comfort food desnecessária) e estou sentado em frente ao computador às 9:15.
Definir horários para começar e acabar de trabalhar
A minha empresa não nos exige um horário fixo; só espera que entreguemos trabalho de qualidade e que ponhamos o melhor de nós em tudo quanto fazemos. Mesmo em circunstâncias normais, isto pode soar a “Eu chego ao trabalho às horas que quero” mas na prática é mais “Se não me parar, vou ficar até mais tarde do que devia. Portanto estabeleci para mim mesmo 9h20 e 18h30 (ish) como horário de trabalho, e mantenho-o mesmo enquanto trabalho a partir de casa. Configurei o meu computador para me ameaçar desligar-se sozinho às 18h10 como um lembrete (e admito que nunca o deixo cumprir a ameaça).
Há sempre amanhã, e eu tenho consciência tranquila que deixo para amanhã o que não consegui que coubesse no horário hoje.
Comunicar indisponibilidade
Enquanto gestor de produto, passo tanto tempo a falar com a minha equipa quanto passo focado em tarefas sozinho.
Por causa disso, períodos ininterruptos de foco são mesmo valiosos. No escritório, tenho o meu chapéu vermelho: um Fez com um post-it que diz “NO”, que pode ser visto do outro lado da sala.
Os meus amigos sabem que o ponho quando preciso de me concentrar. Em casa, ainda o uso (é uma sensação familiar quando tenho de me focar num assunto só), mas em casa ninguém o vê, não é? Portanto ligo o Do Not Disturb no Slack; se alguém precisar mesmo de falar comigo, conseguem forçar a notificação como fariam no escritório. A ideia-chave: sabemos os sinais de concentração de cada um.
Socializar em isolamento social
Não há conversa de café na ausência da máquina de café. No escritório temos uma cozinha bastante espaçosa para a equipa, e os momentos de pausa para lanchar ou almoçar eram momentos essenciais de convívio para nós. Portanto um amigo nosso sugeriu a “máquina de café virtual”, uma sala de Hangouts que qualquer um de nós visita quando precisamos de uma pausa do trabalho, mas queremos conviver com os nossos amigos. Avisamos num canal público do Slack que vamos fazer uma pausa, e quem quiser juntar-se entra na chamada. Tem mesmo feito diferença, ao dar o contexto que precisávamos para falar da série que temos visto, da forma como mudámos a mobília em casa, ou mostrar vídeos palermas no YouTube.
Tenho o privilégio de poder trabalhar a partir de casa desde que juntei à minha empresa actual há mais de dois anos atrás, mas nunca usufruí da vantagem. Sentia que a minha produtividade descia a pique, não conseguia concentrar-me, e sentia mesmo falta de poder sentar-me com os meus colegas para resolver problemas. Era quase FOMO (Fear of missing out), mas exclusivo à minha vida laboral.
Actualmente — por razões óbvias — estou a trabalhar exclusivamente a partir de casa, e está a resultar bastante bem! Nunca fui pessoa para trazer trabalho para casa (salvo raras excepções) e continuo sem trazer trabalho para o sofá. Sinto que é um bom meio-termo. Tudo isto para dizer:
A mudança pode ser assustadora, e abanar o metrónomo como um tremor de terra. Não quer dizer que não consigamos encontrar um novo ritmo no meio do caos.